Se a Primavera é a estação da renovação, o Outono é a estação da libertação, a partir da qual a renovação é possível.
No Outono as árvores despem-se das suas roupas antigas, deixam de alimentar as folhas que trazem da Primavera e do Verão, que amarelecem e morrem, e deixam-nas cair por terra, libertam-se do antigo, do que já não lhes serve, do que já pesa. Também no nosso corpo se dão estas mudanças, já reparou que é no Outono que perdemos mais cabelo? De um ponto de vista psicológico, este libertar do antigo é por vezes doloroso, até percebemos que ele já não nos serve e nos pesa, mas é nosso, é o que conhecemos e é difícil expormo-nos à “nudez” do Inverno, e à incerteza e ao desconhecido do que colocaremos no lugar na Primavera. Muitas vezes no Outono damos por nós com um humor mais deprimido, em processo de luto daquilo que já não nos serve mas custa desprender. O Outono abre caminho à introspecção do Inverno a partir da qual tomamos decisões mais fundamentadas e mais adequadas às nossas necessidades sobre como nos queremos renovar na Primavera. É assustador “despirmo-nos” no Outono e olharmos verdadeiramente para dentro de nós no Inverno, para a nossa essência, mas apesar de difícil, este processo de libertação do antigo é essencial, porque é neste desprender e libertar que abrimos espaço para o novo que a Primavera virá preencher. Este Outono, aproveite para reflectir “do que é que quero e/ou preciso libertar-me?”, “o que é que eu quero e/ou preciso deixar para trás?”, “o que é que pesa, o que é que já não serve?”… E dê-se este espaço para o deixar cair, dê-se espaço também para a tristeza que poderá sentir ao deixá-lo para trás. Ciente que a tristeza não fica para sempre, o que fica é espaço para o novo que a Primavera poderá trazer.
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Amamo-nos muito mas não funciona, não nos conseguimos entender! As relações íntimas de casal são uma área particularmente importante das nossas vidas, mas apesar de as desejarmos muito e de tendermos a sentir-nos incompletos, não totalmente realizados, sem elas, a realidade é que gerir a relação não é fácil e mesmo havendo amor, nem sempre a relação flui, às vezes parece não funcionar. O que é que acontece? Apesar de numa relação termos à partida um objectivo comum, alimentar a relação, mantê-la viva e saudável, não deixa de ser verdade que temos duas pessoas na equação, muitas vezes com registos de funcionamento diferentes, cujo contraste pode criar choque e este choque prolongado no tempo cria padrões de interacção desadequados com uma escalada de frustração, agressividade e/ou afastamento. Quando dentro destes ciclos desadequados de interacção, as dificuldades são duas:
No sentido de tentar quebrar estes ciclos e de tanto aceder como expressar emoções e necessidades em casal, sugiro o seguinte exercício[1]: Numa folha de papel desenhe uma tabela como a seguinte: E comece a preencher.
Como? Deixo um exemplo: Quando tu chegas tarde (situação), eu sinto-me zangada (reacção emocional) e reajo criticando-te (reacção comportamental). Isto esconde a minha ansiedade e sentimento de rejeição (emoção de base). O que eu preciso realmente é sentir que sou importante para ti (necessidade geral), e portanto preciso que tu me ligues a avisar que vais chegar mais tarde (necessidade específica). Desta forma, a nossa activação emocional tende a baixar e a receptividade do outro à nossa necessidade tende a aumentar. É como se encontrássemos aqui um ponto de equilíbrio em que conseguimos comunicar um com outro, cria-se um espaço para ouvir e ser ouvido. [1] do livro Emotion-focused couples therapy: The dynamics of emotion, love, and power de Greenberg e Goldman (2008) Sometimes to loose balance is part of living a balanced life Quando pensamos no que é que queremos para a nossa vida, do que é que precisamos para a nossa saúde mental, cada vez mais reconhecemos que precisamos é de equilíbrio, em contraponto a uma busca utópica de um estado permanente de felicidade e bem-estar.
Apesar deste reconhecimento, velhos hábitos são difíceis de deixar, e o risco é desejarmos sim equilíbrio, mas deturparmos o conceito e rigidificarmo-nos numa postura de não nos permitirmos nem grandes desânimos nem grandes entusiasmos, contentarmo-nos com o mediano, como se equilíbrio fosse sinónimo de meio-termo, nem muito nem pouco, assim-assim. Clarifiquemos então a ideia de equilíbrio: Equilíbrio é um “estado” dinâmico de compensação de forças em que, quando puxo para um lado, activo em consequência uma força contrária que puxa para o outro, no sentido de não permitir a queda ou a destruição. Equilíbrio não é portanto um estado estático mas implica um movimento oscilatório entre polos opostos, sempre com duas forças contrárias e compensatórias a puxar. Equilíbrio não é uma coisa que se adquire mas um processo que se vive. Paradoxal que possa parecer, estar em equilíbrio implica portanto estar disponível para o perder aqui e ali. Neste sentido, talvez a pergunta-chave não seja como é que me equilibro mas como é que me disponibilizo para me desequilibrar. E disponibilizo-me para me desequilibrar quando me permito sentir o que estou a sentir, seja agradável ou doloroso, quando arrisco experimentar coisas novas, diferentes, quando me permito depender momentaneamente dos outros quando preciso de colo e afastar-me momentaneamente quando preciso de dar os meus passos sozinho… Quando confio que posso dar qualquer passo porque sei que tenho a capacidade de analisar os erros, de analisar o risco, e confio que quando necessário consigo mobilizar recursos num sentido compensatório e recuperar o equilíbrio ou transformá-lo num equilíbrio diferente, mais adequado às novas necessidades ou exigências. Preciso confiar que consigo estar próximo da queda sem cair. Preciso disponibilizar-me para o desequilíbrio para viver equilibradamente. Não esqueça: não se atinge o equilíbrio, vive-se equilibradamente em desequilíbrio. “Isso é psicossomático, é da tua cabeça” Com o maior reconhecimento de que a nossa saúde é afectada não só por factores biológicos mas muito também por factores psicológicos e sociais, o termo psicossomático tem vindo cada vez mais a fazer parte do nosso vocabulário habitual. Apesar da mais valia do reconhecimento destes factores adicionais, preocupa-me a forma como por vezes o termo psicossomático é utilizado e os mitos que lhe estão associados. A frase em itálico no início do texto é exemplo disso.
Mas comecemos por definir o termo: Dizer de uma manifestação de doença ou mal-estar que é psicossomático significa que na origem do problema, além de possíveis causas ou influências biológicas, estão também causas psicológicas e/ou sociais. O termo psicossomático não pretende portanto negar ou desvalorizar o sintoma físico mas integrá-lo/contextualizá-lo na história ou fase de vida da pessoa e dirigir a intervenção para o reconhecimento dos factores psicológicos e/ou sociais que poderão ter contribuído para despoletar o problema e que o poderão estar a manter. Pensemos então na frase em itálico: “Isso é psicossomático, é da tua cabeça”. Colocada desta forma, a frase desvaloriza o sintoma e culpabiliza a pessoa que o manifesta; a ideia de “é da tua cabeça” implica que o problema não existe, é uma invenção mental que a pessoa criou. A consequência é a pessoa sentir-se humilhada, incompreendida, incompetente e profundamente sozinha na resolução do problema. O que começou por ser uma tentativa de apaziguamento: “isso não é nada, não tens nenhum problema físico”, torna-se na realidade mais angustiante para a pessoa, que se vê com sintomas que ninguém parece saber justificar e a ter que lidar com um sofrimento que os outros parecem minimizar. É de facto importante desmistificarmos a ideia de que psicossomático significa que não existe. Os sintomas que a pessoa apresenta, mesmo que não tenham à partida justificação biológica para se estarem a manifestar, são reais, têm implicações reais na vida das pessoas, causam sofrimento real e não surgiram do nada; se não há causas físicas que por si só justifiquem o problema, existem no entanto causas psicológicas e/ou sociais que precisam ser desvendadas e trabalhadas para que deixem de se manifestar fisicamente de forma tão exacerbada. Perante uma crise de pânico, por exemplo, os sintomas de falta de ar, taquicardia, sensação de desmaio estão de facto lá; se não significam problemas de coração ou do sistema respiratório, podem sinalizar contudo uma situação de vida que está a ser dolorosa e não está a ser processada, ou uma história de vida com situações passadas mal resolvidas que entretanto começaram a pesar demasiado, ou a necessidade de tomar decisões importantes e estar a ser demasiado difícil escolher, entre outos. São factores psicológicos mas são reais, existem e é importante cada vez mais reconhecermos que não temos um corpo e uma mente independentes mas que eles se influenciam mutuamente, que a nossa mente está integrada no nosso corpo e que por isso, além de lhe sentir a influência, também o influencia a ele. Com isto mais claro, que perante manifestações físicas de problemas psicológicos possamos cada vez menos dizer “isso é psicossomático, é da tua cabeça”, e cada vez mais reconhecer que “é psicossomático, portanto vamos procurar e resolver os factores psicológicos que estão a intervir”. Na minha prática clínica tenho-me apercebido como para muitos a compaixão é um sentimento tido como menos nobre, especialmente quando trabalho com os meus pacientes no sentido de os ajudar a desenvolver compaixão pelas suas próprias vulnerabilidades, por aquilo que tendem a ver como os seus defeitos. E de facto este desafecto pela compaixão deixa-me sempre a pensar.
O que é que causa esta antipatia pela compaixão? Como é que a compaixão se tornou algo aversivo, a rejeitar? E surgiu-me… será pelo que a compaixão sinaliza? A compaixão sinaliza fragilidades, dificuldades, aspectos em que se é mais vulnerável, e que são muitas vezes os aspectos que queremos esconder de nós próprios. Sentir compaixão pelas nossas fragilidades implica assumi-las, e quando ao longo do nosso desenvolvimento não nos foi dado espaço, permissão, compreensão pelos nossos erros, pelas nossas falhas, pelas nossas sensibilidades, aprendemos que elas são algo a combater e não a abraçar e acarinhar. E ficamos num conflito interno, por um lado é duro e exigente o discurso aprendido de “tens que ser sempre forte, não podes falhar, tens que dar sempre o teu melhor, superar as tuas capacidades”, por outro ele está tão enraizado que é difícil abrir espaço para de facto acarinhar os nossos lados mais frágeis, dar-nos colo nos momentos mais difíceis, saber dizer “isto é o que eu consigo fazer neste momento, tendo em conta o contexto e a minha própria história, e eu não tenho que me criticar por isso, pelo contrário, este é um aspecto tão sensível para mim, que me custa tanto, que eu preciso mesmo é de aceitação, compreensão, compaixão”. É de facto impressionante como muitas vezes somos nós próprios os nossos maiores críticos, e como nesta crítica, nesta dificuldade em aceitarmos que erramos, que temos aspectos em que somos mais frágeis, acabamos por nos impedir de aceitar o colo, a compaixão que poderia ser reparadora. Porque se olharmos para trás, para a nossa história, percebemos que a compaixão das pessoas significativas da nossa vida durante o nosso crescimento foi precisamente o que nos faltou e que nos trouxe a esta hipercrítica com os nossos “defeitos”. Criticamo-nos geralmente porque achamos que essa é a forma de nos incentivarmos a mudar e tememos que ao sentir compaixão nos resignemos. O que não percebemos é que ao combater a compaixão e insistir na crítica, estamos na realidade a lutar contra o antídoto, o remédio curativo que poderia de facto potenciar mudança. Porque aceitação não é sinónimo de resignação, e só na medida em que aceito onde estou e o que consigo é que abro espaço psicológico para crescer, para me desfocar do que não sou capaz, reconhecer aquilo em que sou bom e potenciar a mudança a partir daí. Poderá não ser fácil, a crítica às vezes é muito forte, mas experimente sentir compaixão pelos seus lados mais frágeis, aceitar as suas vulnerabilidades, verdadeiramente, sabendo que de início pode ser difícil, mas é na realidade o remédio reparador. _ Resiliência, em termos psicológicos, é a capacidade de lidar com problemas, com desafios, com as dificuldades que se nos vão deparando ao longo da vida.
Durante muito tempo associou-se resiliência à capacidade de vivenciar emoções agradáveis e reconhecer o que se pode tirar de bom das situações; não deixando de ser verdade, estudos mais recentes sugerem no entanto que uma componente central da resiliência é a flexibilidade emocional, que é a capacidade de adaptarmos as nossas respostas emocionais às mudanças no meio envolvente. Ou seja, além de ser importante ser capaz de experienciar emoções agradáveis face a situações agradáveis, é igualmente importante ser capaz de experienciar emoções desagradáveis face a situações desagradáveis. Não é suposto negarmos os aspectos difíceis das nossas vidas, é importante é também não permitirmos que eles nos impeçam de vivenciar os bons momentos que também surgem pelo caminho. Rigidificarmo-nos num estilo de resposta de só viver o negativo ou só viver o positivo deixa-nos mais vulneráveis. O fundamental é sermos coerentes com o que estamos a viver e adaptarmos as nossas reacções emocionais às circunstâncias com que nos deparamos. __ Recentemente li o livro A traição do Eu: O medo da autonomia no homem e na mulher de Arno Gruen, e apercebi-me como de facto tendemos a gerir as nossas vidas de acordo com uma ideia de autonomia incongruente com o que ela realmente implica.
Segundo o autor, “a autonomia é o estado de integração em que uma pessoa se encontra em plena concordância com os seus sentimentos e as suas necessidades. (…) Da autonomia faz parte a capacidade de ter um Eu alicerçado no acesso a sentimentos e necessidades genuínos.” (págs. 17 e 18). Paradoxalmente, geralmente associamos a pessoa autónoma à pessoa independente, controlada, bem adaptada socialmente, por muito que esta pessoa possa não reconhecer qualquer sentimento de tristeza, zanga, medo, ou qualquer necessidade de proximidade, de conforto. Ao colocarmos este peso na ideia de autonomia, colocamo-nos necessariamente em conflito entre um Eu ideal (supostamente autónomo porque independente e controlado), favorecido pela sociedade ocidental actual, e o Eu real (genuinamente autónomo, mas não reconhecido socialmente como tal), que por vezes tem dores, que tem fragilidades, que precisa de proximidade e de conforto. Estranhamente, este é o Eu socialmente rotulado como fraco e dependente. Assim, quando puxamos o suposto lado da autonomia (portanto o independente e controlado), reprimimos a possibilidade de satisfação no contacto com a nossa realidade interna e a possibilidade de conforto na interdependência (no equilíbrio entre a proximidade e o isolamento). Criamos a fantasia que ou somos “autónomos” e fortes ou somos dependentes e fracos, sem percebermos que proximidade e autonomia não são incompatíveis, eu não preciso de me isolar para ser autónomo e posso retirar conforto na proximidade sem me tornar dependente. É muito importante percebermos que a nossa saúde mental não passa por nos adaptarmos às expectativas dos outros negligenciando-nos a nós próprios; a nossa saúde mental passa por encontrarmos, mantendo-nos próximos aos outros, um espaço para reconhecermos e cuidarmos das nossas emoções e necessidades. _ Quando penso em direitos humanos lembro-me imediatamente da dificuldade que muitas vezes temos em contemplar os nossos próprios direitos.
Quantas vezes ao longo do nosso desenvolvimento nos fomos perdendo de nós próprios, descurando as nossas necessidades, muitas vezes perdendo mesmo o contacto com elas, e habituámo-nos a viver em função de “deveres” que nos foram incutidos e de expectativas que sentimos que os outros nos colocam. Todos temos necessidades psicológicas fundamentais que precisam ser cuidadas: O direito ao afecto O direito à afirmação da nossa identidade O direito à diferença O direito ao respeito pelas nossas diferenças e pelas nossas fragilidades O direito a viver as nossas emoções: direito à tristeza, à alegria, à zanga, ao medo, à vergonha O direito a procurar proximidade/intimidade O direito a movimentos de autonomia O direito de procurar prazer O direito de dizer “não” O direito de nos protegermos e de nos defendermos de ataques, de abusos, de solicitações exageradas O direito a termos as nossas merdas O direito a expressarmo-nos de acordo com os nossos interesses e as nossas necessidades Neste dia mundial dos direitos humanos, aproveitemos para nos questionar quanto é que temos olhado para as nossas necessidades psicológicas mais fundamentais e quanto é que as temos visto e respeitado como direitos que são. Consciencializarmo-nos dos nossos direitos e respeitá-los é fundamental. Só na medida em que defendemos os nossos direitos, nos conseguimos disponibilizar para tranquila e genuinamente respeitar os direitos dos outros. Só se deprime quem não se deixa entristecer António Branco Vasco _ Esta é sem dúvida uma das frases marcantes do meu percurso académico e a minha experiência clínica tem confirmado todos os dias quão verdadeira ela é.
Talvez soe estranho, estamos habituados a associar a depressão à tristeza e a temer que se nos permitirmos entristecer podemos acabar a deprimir. Por lógico que possa parecer o raciocínio, é na realidade falso. A tristeza é uma emoção com funções adaptativas muito importantes: por um lado mostrarmos aos outros que precisamos de conforto e auxílio no sentido de reduzir o nosso sofrimento psicológico, por outro recolhermo-nos em nós próprios no sentido de ultrapassar as nossas perdas significativas. Ambos estes movimentos (um para o exterior, outro para o interior) são fundamentais para recuperarmos o equilíbrio e voltarmos a investir nas nossas vidas. A depressão é como uma panela de pressão, cheia de tristeza a ferver e sem que aliviemos o pipo para deixar alguma sair. Ao não nos permitirmos entristecer, não libertamos alguma desta energia dolorosa mas real, e ficamos inundados por ela; no esforço de não a deixarmos sair, bloqueamos todas as saídas, que são também as entradas, e a vida deixa de fluir. Em terapia o que procuramos habitualmente fazer face a quadros de depressão, é reconhecer as frequentes tristezas acumuladas, dar-lhes permissão para se expressarem num ambiente seguro, dar-lhes colo, validação, e perceber o seu significado (de onde é que vêm e o que é que sinalizam). De alguma forma tentamos ajudar a reestabelecer o conforto com a tristeza, a vê-la mais como um aliado e menos como um inimigo. E na medida em que se for permitindo entristecer, acredite, vai estar a proteger-se da depressão. Neste dia internacional para a tolerância, trago-vos um lado da tolerância talvez pouco contemplado.
Tolerância é frequentemente sentida como algo dirigido ao outro, com o outro como referência. Eu acho que é importante contemplar o lado do (in)tolerante, o que significa a (in)tolerância do lado de quem a pratica. Tolerância, na sua face mais visível, implica dar espaço ao outro para ser ele próprio, aceitar o outro nas suas diferenças. No lado menos visível, tolerância implica dar-se espaço a si próprio para se ser quem é, plenamente, aceitar-se nas suas vulnerabilidades, aceitar as suas próprias diferenças. Quando não me aceito nas minhas diferenças, nas minhas vulnerabilidades, fico intimidado com as diferenças dos outros, elas salientam as minhas próprias, obrigam-me a dar-lhes atenção. E então defendo-me, deste que me afronta quando me mostra que o diferente sou eu também. Projecto nele a responsabilidade pelos meus males e luto com unhas e dentes para não deixar trespassar qualquer resquício da minha insegurança. Estrangulo a possibilidade de diálogo, sem perceber que quem sufoca é o meu próprio eu, aquele que soluça cá dentro, apertado. Quando consigo arranjar coragem para olhar para os meus lados menos risonhos e dar espaço, presença às minhas dores, às minhas fragilidades, dou-me também espaço a mim para me aceitar na diferença, respeitar-me pelo que sou, permitir-me ser de forma mais tranquila e mais autêntica. E na medida em que me tolero e respeito mais a mim, melhor tolero e respeito o outro. |
Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
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